01 Mar DIA #11
Os passeios que eram quadros [ou Tantos camelos na estrada]
Saint Louis (Senegal) – Kaolack (Senegal) [367 km]
Hoje foi um dia em que o nosso destino não estava definido. O nosso plano era avançarmos o máximo possível, mas, na verdade, nunca temos destino. O destino só o conhecemos depois de selecionarmos o instante que consideramos ponto de chegada. Até lá, é apenas uma ilusão. Conseguirmos orientar a nossa direcção é o melhor que se pode fazer.
Uma das coisas que mais marcam esta viagem é a quantidade de crianças que encontramos a brincar na rua. A rua, na minha infância, era o ponto de encontro por excelência. Na rua tudo era mais do que aquilo que parecia. A rua podia ser um campo de futebol ou uma pista. Os passeios eram quadros e o giz, ou o tijolo de construção quando o giz faltava, eram o lápis. Não havia limites para o que a rua podia ser.
Para que fique claro, a rua a que me refiro não é a estrada, mas o espaço público de partilha.
Hoje, a rua é um lugar de passagem apressado. É um espaço rígido e demasiadamente definido. Olhamos para a rua culpando-a da aceleração porque esta é a única coisa que sentimos. No entanto, sabemos que o verdadeiro problema está na velocidade. Queremos chegar cedo, e muitas vezes, queremos chegar antes de termos partido.
A estrada que fomos pisando eram atravessadas por imensos animais. O animal que fomos encontrando que mais marca é, inevitavelmente, o dromedário, embora nunca o chamamos por este nome. As pessoas ficam admiradas de estarmos a tirar fotos a um animal que por aqui é tão comum e perguntam se não costumamos encontrá-los em Portugal. Respondo sempre que, tal com aqui, não faltam camelos nas estradas Portuguesas.
Esta viagem prevê cerca de 5000 km e 8 fronteiras. Embora esta seja uma distância considerável, vimos demasiados acidentes. Confesso fazer parte dos meus planos para os próximos tempos, uma campanha que sensibilize para a falta de respeito pela distância de segurança. Quando numa autoestrada, praticamente se encostam a mim, confesso perder um pouco o meu controlo. Torno-me mais animalesco, embora nunca um camelo.